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domingo, dezembro 28, 2008

A Morte

“Que homem, num desses momentos de tristeza que enchem a vida, não desejou a morte e que homem não se teria dado a morte, se isso dependesse de um simples ato de sua vontade?”.
J.P.Marat
...suas ocorrências:
"Com a morte, a circulação e a respiração são abolidas; o coração detido em diástole; a cavidade torácica, em expiração (daí as expressões "expirar" ou ainda "dar o último suspiro" utilizadas como sinônimos de morrer).
- Os músculos relaxam-se, bem como os esfíncteres: o cadáver "esvazia-se" espontaneamente de todos os excrementos. Sejam quais forem as condições da morte, os olhos abertos ou semifechados apresentam um aspecto vítreo, a pupila surge dilatada.
- Ao fim de 5 a 6 horas, o cadáver fica rígido, sob o efeito do ácido láctico que se acumula nos tecidos.
- Ao fim de 24 horas surge uma lividez cadavérica: manchas vermelho-escuras ou violáceas, devido à acumulação, do sangue, incoagulável, então, nas partes mais baixas do corpo deitado (nuca, ombros, nádegas) e que estão em contacto com a cama ou o leito do caixão. Depois, a rigidez cadavérica desaparece. É então que se deve proceder à inumação ou à cremação. No caso de o corpo não ser queimado, começará a necrosar-se (putrefação). Os primeiros sinais da necrose são a produção de gás e de líquidos pútridos de um odor insuportável.
- Se o cadáver demora a ser enterrado, atrairá as moscas azuis, que vão pousar nas aberturas naturais (em particular, narinas e boca). Estas moscas nunca são atraídas pelo vivo. A sua presença permite fazer imediatamente o diagnóstico de morte, mesmo que à distância, num indivíduo encontrado inanimado ao ar livre.
- Pouco depois surgem as grandes manchas verdes de putrefação, em particular no abdômen. Estas manchas espalham-se progressivamente por todo o organismo. Devem-se à multiplicação das bactérias que vivem normalmente no intestino, mas que já não são contidas pelas defesas imunitárias.
- Mais tarde, o corpo desidrata-se, a pele fica mirrada e apergaminhada, como que tendida, arrepelada sobre os ossos. As células nervosas não sobrevivem senão alguns minutos à anoxia. Depois dela, degeneram as células hepáticas, renais, glandulares. Os últimos sobreviventes são os epitélios (2 a 3 dias). Os cabelos, os pêlos, as unhas, continuam a crescer durante algum tempo, até sucumbirem também. Num indivíduo que se barbeie todos os dias, o comprimento dos pêlos do queixo pode dar uma idéia sobre a época em que ocorreu a morte. Do ponto de vista macroscópico, alguns órgãos, apesar de gravemente lesados e totalmente não funcionais, mantêm a sua forma anatômica, antes de ficarem reduzidos a uma sopa infecta que encherá, provisoriamente, o crânio, o tórax, o abdômen. O fígado desaparece à terceira semana, o coração e o útero entre o quinto e o sexto meses.
- Se fizermos o inventário de todos os organismos, denominados xenontes (bactérias, cogumelos, vírus, parasitas), que possui um indivíduo normal, podemos contar entre 100 e 200 espécies diferentes, conforme os casos.
- No estado normal, mesmo os cadáveres enterrados são vítimas de inúmeros predadores, que conseguem introduzir-se sempre nos túmulos mais bem fechados: pequenas aranhas, como acarídeos e os miriápodes, insetos e mesmo ratos.
- No plano químico, a água constitucional regressa ao solo, levando com ela sais dissolvidos e bactérias. Os glicídeos são decompostos álcoois, cetonas, ácidos orgânicos, que vão também para a terra. Alguns degradam-se até o estado de gás carbônico que se espalha pela atmosfera. As gorduras, relativamente estáveis, concentram-se em estalactites que prendem, moles e enormes, nos rebordos dos caixões. É a adipocera, ou a "manteiga dos cadáveres", bem conhecida dos coveiros, resultante da saponificação das gorduras humanas.
- Ao fim de cerca de um ano, o cadáver não é mais do que um esqueleto descarnado, ao qual se agarram ainda alguns pedaços de tecidos (ligamentos, tendões, restos de grandes vasos) mais ou menos parasitados por alguns coleópteros ou acarídeos.
A desunião dos ossos demora de 4 a 5 anos. Quanto aos ossos própriamente ditos, podem desaparecer por descalcificação e dissolução na água da chuva. Os dentes são os útlimos restos a desaparecer: atravessam, por vezes, milênios."(Extraído do livro O SEXO E A MORTE, de Jacques Ruffié, Publicação Dom Quixote, Lisboa, 1987, pp.230,231,232,233.)”.

‘(Transcrito literalmente (Português de Portugal), do livro NECROCÍDIO, de Ézio Flavio Bazzo, Publicação Da Anta Casa Editora, Brasília, 1992, pp.14,15,16.)’.